1Samuel 26 | Submeter-se à justiça de Deus

Saul é novamente informado da localização de Davi e parte em direção ao deserto de Zife, levando consigo três mil dos melhores homens de Israel. Davi, por sua vez, soube que Saul vinha em sua direção e, ao invés de fugir, enviou espias para certificar-se de que Saul havia chegado (1Samuel 26:1-4).

Uma visita ao inimigo

Davi vai até o acampamento e observa o lugar onde Saul e o chefe do seu exército dormiam. Então, Davi e um de seus homens, Abisai, partem durante a noite até o acampamento de Saul.

Chegando lá, viram Saul deitado, com sua lança firmada na terra, com todos os soldados deitados à sua volta. Abisai diz o mesmo que os homens de Davi haviam dito quando Saul entrou na caverna em En-Gedi (1Samuel 24:4): que Deus havia entregado o rei nas mãos de Davi para que o matasse (1Samuel 26:8).

Davi, porém, mostra mais uma vez misericórdia a Saul e ordena que Abisai não o mate, porque tomaria sobre si a culpa de matar o ungido do Senhor.

Davi disse mais: Assim como vive o Senhor, ou o Senhor o ferirá, ou chegará o seu dia e morrerá, ou descerá para a batalha e morrerá; porém o Senhor me guarde de estender a mão contra o ungido do Senhor. Agora, pega a lança que está à sua cabeceira, e o jarro d’água, e vamos embora.

1Samuel 26:10-11

Enquanto se aproximam e tomam a lança e o jarro, ninguém no acampamento os ouve ou vê, porque o Senhor os fizera cair em sono profundo (1Samuel 26:12).

Davi não tentou fugir do sofrimento a todo custo, nem mesmo tentou acabar com ele quando teve a chance de matar Saul. O temor de Davi a esse respeito revela o quanto honrava o rei, mas também o quanto compreendia daquilo que Deus esperava dele.

O rei sem protetor

Da mesma forma como fez com a ponta do manto cortado (1Samuel 24), Davi chama à distância, dessa vez a Abner, chefe do exército de Saul. Ao fazer isso, Davi traz algumas coisas à tona:

1. É impossível resistir ao mover de Deus. Quando o Senhor faz com que todo o exército de Saul (mais de 3 mil homens) permaneça adormecido enquanto Davi se aproxima deles, acordando somente quando ele já está à uma distância segura, mostra que não existe a possibilidade de resistir à vontade dEle.
2. Davi não desejava – e não faria – mal a Saul. Mais uma vez, Davi fala e comprova em suas atitudes que não tem intenção de matar o rei, porque sabe que ele é o ungido do Senhor. Davi honra Saul, honra a posição de rei de Israel e o Deus que atribuiu Saul a esta posição.
3. Homens não podem lutar contra Deus. Nem o chefe do exército, nem os 3 mil soldados poderiam defender Saul do Senhor se o Seu desejo fosse a morte do rei. Em duas ocasiões, a vida de Saul esteve nas mãos de Davi, com quem o Senhor estava. Não importa o tamanho do exército de um homem, aquele que tem o Senhor consigo sempre será vencedor, ainda que perca inúmeras batalhas.

A proteção de Saul eram 3 mil homens, mas contra Deus, eles não eram nada. Não existe nenhum exército ou problema que seja grande ou poderoso demais diante do Senhor. Nem mesmo a morte é capaz de injuriar o homem que está com Aquele que é a própria Vida.

Mansidão que desarma

Saul ouve e reconhece a voz de Davi, que mais uma vez questiona ao rei os motivos pelos quais anseia pela sua morte. Novamente, Saul fala como quem se arrepende, pede perdão e promete não fazer mal a Davi (1Samuel 26:17-21).

Mais do que isso, Saul abençoa Davi e declara que ele certamente fará coisas grandiosas. Quando confrontado pela misericórdia e bondade de Davi, Saul não tem outra opção se não reconhecer a grandiosidade do seu oponente.

Porém, um momento não é suficiente para que o coração já endurecido de Saul encontre verdadeiro arrependimento, aquele que gera frutos – ou seja, mudança de mente e de atitude.

Ao poupar a vida de Saul vez após vez, Davi exibia a confiança que depositava em Deus e na Sua justiça.

Porém o Senhor recompense a cada um conforme a sua justiça e a sua lealdade; pois o Senhor te entregou hoje na minha mão, mas eu não quis ferir o ungido do Senhor. E, assim como a tua vida foi preciosa aos meus olhos hoje, seja a minha vida preciosa aos olhos do Senhor, para que ele me livre de todo sofrimento.

1Samuel 26:23-24

Mesmo vivendo dias difíceis, Davi não tinha dúvidas de que o Senhor haveria de vingá-lo. Ele não foi guiado por justiça própria, mas pela fé no Único que é verdadeiramente justo.

Ser sal e luz no mundo é se parecer com Cristo, sendo manso e humilde como Ele é, exalando Seu bom perfume (Mateus 5:13-16), mas também lembrando que o homem não pode ser Cristo – e, portanto, não é capaz de exercer perfeita justiça. Somos chamados a confrontar o pecado que há no mundo, exortar e corrigir quando necessário. Davi fez isso (de forma honrosa, inclusive) com Saul. Mas também somos chamados a dar a outra face, a mostrarmos compaixão e misericórdia e, dessa forma, expressar o caráter perdoador e amoroso de Deus (Mateus 5:38-46). Para fazer qualquer uma dessas coisas, precisamos confiar completamente no Senhor.

Pois, não reconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus.

Romanos 10:3

Só haverá justiça plena quando Jesus estabelecer Seu Reino na terra. Até lá, precisamos lidar com as injustiças de forma humilde e paciente, nos sujeitando à justiça de Deus e confiando nela com esperança. Deixo o convite para que você sonde seu coração constantemente, pedindo ao Senhor que o livre da justiça própria e alinhe seus anseios com os dEle. Uma dica de leitura nesse tema é Mateus 18:15-35 🙂

Deus abençoe!