Fome & fartura
Quando temos fome, nenhum gesto será tão espetacular aos nossos olhos quanto uma oferta de alimento. Por outro lado, se temos fartura de alimento, a oferta será vista com muito menos empolgação, certo?
Esta era uma das preocupações de Moisés no livro de Deuteronômio. Observemos mais especificamente o capítulo 8 do referido livro, onde o líder exorta os israelitas para que não se esqueçam do Senhor quando adentrarem a terra prometida e experimentarem sua fartura.
Os israelitas foram conduzidos por Deus pelo deserto por longos 40 anos. O Senhor não deixou que eles sofressem porque não sabia o que eles precisavam, pelo contrário. Ele o fez para que não pensassem, jamais, que tinham a força ou a capacidade de fazê-lo por conta própria.
Ele permitiu que eles sentissem fome e sede, para então sustentá-los com maná (alimento que nem eles nem seus antepassados conheciam) e dar-lhes água da rocha. As roupas deles não se desgastaram, tampouco seus pés se encheram de bolhas.
Por quarenta anos, peregrinaram pelo deserto imenso e assustador debaixo dos cuidados do Senhor. Cuidados estes que, possivelmente, não eram exatamente o que os israelitas esperavam.
Quando estamos caminhando por um deserto, muitas vezes não entendemos o motivo pelo qual o Senhor não pode simplesmente nos tirar de lá com Sua forte mão. Nós sabemos que Ele pode. Mas o fato é que há coisas que o Senhor só faz no deserto. E, também, há coisas que nós só entendemos quando vivemos no deserto.
O sustento do Senhor no deserto é grandioso e milagroso aos olhos daquele que peregrina. Ao invés de pão, Ele oferece maná, alimento dos céus, oferece Palavra. Aos olhos daquele que chegou na terra farta, Deus pode parecer distante e até mesmo desnecessário.
Por isso, a advertência de Moisés serve também para nós nos dias de hoje. Nos dias de deserto, clamamos mais. Quando encaramos dor e sofrimento, a Palavra que procede da boca de Deus é suficiente. Nos dias de fartura na terra prometida, não podemos nos esquecer daquilo que Ele fez no deserto. Não podemos esquecer de que tudo aquilo de que desfrutamos vem, em primeiro lugar, do Senhor.
E se a peregrinação pelo deserto durar 40 anos e não 11 dias… sabemos que Ele cuidará de nosso sustento, de nosso corpo e até mesmo de nossas roupas. E, mais do que isso, sabemos que é Ele quem nos concederá a força necessária e nos guiará para a terra de fartura. Lá, então, continuaremos a louvá-Lo por quem Ele é e pela bondade abundante que nos persegue do vale ao monte!
“Deus sussurra a nós na saúde e prosperidade, mas, sendo maus ouvintes, deixamos de ouvir a voz de Deus. Então Ele gira o botão do amplificador por meio do sofrimento. Aí então ouvimos o ribombar de Sua voz.” C.S. Lewis